Durante 43 anos, Ciano Alves foi o flautista do Quinteto Violado. Um dos
grupos mais longevos da música brasileira,
marcado pela sonoridade da flauta. São 50 anos de estrada, e Ciano participou
da gravação de dezenas de discos e rodou o Brasil. Também se apresentou em
outros locais da América do Sul e em países da Europa e Ásia.
Ciano entrou no grupo ainda como Luciano, em 1979. Antes, ele tocava no
Quinteto Recife, um cover do Violado, e recebeu um telegrama de Toinho, seu tio
que tocava no grupo já reconhecido. O convite veio com uma indicação de que ele
estudasse o álbum "Pilogamia do Baião" para viajar em turnê. Foram
dois meses imersos nas músicas do disco, sem nenhum ensaio e uma estreia logo
em seguida.
Ao entrar no grupo, precisou de um nome artístico, pois já havia um Luciano no elenco. Assim, ficou Ciano Alves, músico reconhecido na cena de Pernambuco. O flautista, que não lia partituras, dominava o palco e tinha domínio de improvisar. Passou a ser chamado de mago da flauta.
"Era uma extensão do seu corpo. Conseguia tirar sons daquele
instrumento que ninguém mais tirava. Quando ele tocava, realmente
encantava", afirma seu irmão Roberto Medeiros, 59, atual baterista do
Quinteto Violado.
José Luciano Alves de Medeiros nasceu em Garanhuns, em 1959. Era o mais
velho de cinco irmãos, todos envolvidos com a música, herança do pai maestro e
compositor.
O menino talentoso nunca se interessou por ler partituras. A contragosto
do pai, dizia que não queria ficar preso àquilo. Participou de uma banda
escolar e, após uma colônia de férias, ingressou no conjunto Os Bravos, no qual
tocava guitarra.
Na adolescência, ao passar férias na casa do avô em Olinda, estreitou
mais os laços com a música. Ganhou uma flauta doce de um tio e começou sua
relação com o instrumento. Luciano aprendeu rapidamente a dominá-lo, motivo de
orgulho para o pai saxofonista, que sugeriu que partisse para a flauta
transversal.
Aos 20 anos, mudou-se para Recife, onde passou a tocar
na noite. Embalava diversos ritmos, como samba, choro e bolero.
Já no Quinteto Violado, apresentou-se em muitos Carnavais da capital.
Um de seus últimos shows foi no Galo da Madrugada, em 2019.
O bloco, considerado o maior do mundo, publicou nas redes sociais que
"Ciano deixa um legado sem tamanho na música pernambucana e
nordestina".
O músico enfrentava problemas de saúde havia alguns anos. Tinha diabetes e hipertensão. Chegou a pesar
150 kg, e os problemas no pulmão o fizeram diminuir o ritmo.
Nos dois últimos anos, foi internado diversas vezes. Estava com
insuficiência renal e fazia hemodiálise. Em setembro, foi internado novamente e
aguardava um transplante de rim. Morreu no dia 30 do mesmo mês, aos 65 anos.
Deixa as duas filhas, Luana e Nasla, além dos netos Guilherme e Grael.
Fonte: folha.uol.com.br