Vestindo biquíni de tecido espesso como era comum nos anos 1950, Adieme Pennacchi exibia sobre a pedra do Arpoador, no Rio de Janeiro, a exuberância que a fez ser considerada um símbolo de beleza da época. Aos 18 anos, acabara de adotar o nome artístico Lilian Fernandes, como ficaria nacionalmente conhecida pela atuação como vedete no teatro e na televisão.
"Passou muito rápido", comentou durante a lúcida entrevista ao
jornalista Rodolfo Bonventti, um mês antes de morrer repentinamente em sua
residência de veraneio em Guarujá, no litoral
paulista.
"Até nisso ela foi abençoada, aconteceu como ela queria, sem
sofrimento", conta Bonventti, amigo tardio de Lilian, de quem se aproximou
há cerca de cinco anos para realizar pesquisas para o Museu Brasileiro de Rádio
e Televisão, instituição dedicada à memória das estrelas do entretenimento
brasileiro.
Aos 89 anos, Lilian se lembrava daquela tarde observando o mar e as
areias do Rio de Janeiro como se fosse ontem, contou na entrevista. Também
estavam frescas as memórias dos colegas de palco. Alguns se tornaram
companheiros de vida, entre eles o ator e diretor teatral Colé Santana
(1919-2000), com quem foi casada por mais de uma década.
Grande Otelo, Zeloni, Zé Trindade e Dercy
Gonçalves também estão entre os grandes nomes com os quais dividiu a ribalta.
Vedetes tinham papel essencial no teatro de revista,
gênero popular que lotou plateias de terça a domingo no Brasil até meados do
século passado. Cabia às moças em trajes chamativos servir de escada para
humoristas protagonistas.
Dançarinas. Cantoras. Atrizes. Beleza era só um entre os muitos atributos de uma vedete. Era preciso entender o tempo da comédia, saber dar a deixa, servir de contraponto e completar a piada, como explicou a própria.
Lilian Fernandes (1935 - 2024) -
Acompanhando trupes, percorreu o país apresentando-se nos palcos do Rio
e de São Paulo, mas foi também aos rincões, onde só se chegava por estradas
lamacentas.
Com a popularização dos televisores, a linguagem do teatro de revista
foi adaptada para programas televisionados. Lilian integrou elencos estrelados
nessa fase, com destaque para o humorístico "Times Square", que
ocupou o horário nobre da TV Excelsior de 1963 a 1965.
Nas décadas seguintes, participou de alguns dos principais programas
humorísticos da TV, entre os quais "Chico Anysio Show" e "A
Praça É Nossa".
Último trabalho de destaque na televisão, esteve no capítulo final da novela Belíssima,
em 2006. O episódio prestou homenagem ao teatro de revista, contando com a
participação de diversas vedetes.
Nascida na cidade de São Paulo em 11 de junho de 1935, a atriz viveu
seus últimos anos em sua residência no Ipiranga, perto do parque da Independência.
Foi no jardim diante do museu que gravou a entrevista derradeira.
Bonventti a descreve como a última grande vedete paulistana que ainda
estava viva.
Lilian Fernandes morreu em 12 de setembro devido a um aneurisma de
aorta. Deixou duas filhas e duas netas.
Fonte: folha.uol.com.br